Ela

Flávia. Morena. Pele também. Pêlo Longo. Pelo menos assim me dissera. Vínhamos trocando e-mails durante meses. Fibras ópticas e cabos de cobre separavam-me de minha amada. Por mais que não parecesse, acreditava nela. Por nunca desconfiei de que tudo aquilo poderia ser uma mentira. Eu mesmo tivera que fantasiar: Ela não queria saber da minha vida simples, cotidiana e tributável. Queria o Cavaleiro Andante e não o Sancho Pança. E assim dei-lhe.
Durante meses desse modo seguiu-se. Resolvemos nos encontrar. “Lenço vermelho na cabeça”. Shopping. 14:30h. Meu melhor terno - meu outro no caso, exceção feita àquele que todos os dias me acompanhava ao escritório - fora tirado do armário. Chegando lá, de longe a avistei. O enorme laço vermelho traduzia-se: Embrulhada para presente. Aproximei-me. [Pausa]. Um monstro. Horrível. Passei reto. Resolvi tomar um picolé e pensar no que deveria fazer. Porém distraí-me com a fascinante notícia de que agora havia sorvete sabor milho verde. Que delícia! Adoro milho verde. Esqueci.
Quando voltei, para a minha surpresa, ela ainda estava lá. Inanimada. Sem alma. Chorava, mas discretamente. Ferida, certamente. Não sabia o que fazer. Não havia nada que pudesse fazer. Na verdade, havia. Na semana seguinte troquei de e-mail.
1 Comments:
hahaha
excelente. Quem nunca fez algo parecido que atire a primeira pedra.
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