Vendo TV

Dizem que tv é a mãe da preguiça. E, por ser mãe, temos que respeitá-la. Discordo. E a minha está a venda (a tv, não a mãe). Quanta informação pela metade e tendenciosa! E eu acabo sendo meio assim, como minha tv. Quando não sei, faço piadas. A tv só nos mostra a cultura póstuma, bundas, notícias enxutas e testes de fidelidade. Por isso, vendo minha tv. Tô louco pra comprar uma de 29 tela plana pra ver tudo isso, na alta definição que merece.

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Puramente ilustrativo e fantasioso. Qualquer semelhança com a vida real é meramente proposital.

Tuesday, June 02, 2009

Meu Pequeno Grande Mundo


Tudo fora planejado, com riqueza nos detalhes.

Na linha de frente, robustos e acéfalos, soldados cantarolavam sobre triunfos de outrora. O primeiro-imediato do batalhão, uma abelha de cabeça grande e menor porte, zumbia de forma incompreensiva de um lado ao outro, em frente à moçaroca de asas.

Posicionado nos flancos, vinham as falanges de arqueiros gafanhotos. Artrópodes mais sêniors, com mais de 10 dias de vida, seguiam pelos céus. E contra o vento.

A artilharia pesada, formada por besouros-de-chifre e escaravelhos blindados, negros como a morte, vinham no centro da tropa, em formato diamante. O fomentar de rumores de que alguns desses tanques poderiam voar, causava pânico entre as tropas inimigas.

Os combatidos não se curvam, porém, perante aos invasores. É de assumir que não possuiam força e estratégia militar à altura da Aliança combatente, porém possuíam contingente numérico de tropas a seu favor. Afinal, todos no cupimzeiro eram iguais em dia de batalha. Adultos, fêmeas, larvas e idosos eram soldados perante aquela tarde. A topografia também convergia a favor: atacariam pelo cume do Monte Olímpo.

Mais que isso, os cupins tinham um grande aliado: a ajuda dos Deuses. Guiado por uma lupa vinda dos céus, Hefesto, filho de Zeus e Hera e deus do fogo, cortava com sua luz flamejante as tropas da Aliança. A sorte de escapar ilesos porém, não chegara a todos.

A guerra mal começara e outro Deus também fizera seu movimento. Apolo, deus da peste, destilava pelos ares sua morte, trazendo desgraça aos que em sua frente se opunham. Na luta contra o inimigo invisível, o gosto amargo e opaco, pregava-se em insistência nas bocas combatidas.

Mesmo defasada, a Aliança mantia, de forma consistente, suas manobras e honras militares. Bandeirolas com símbolos e cores distintas, direcionavam tropas, divisões e agrupamentos. Infantaria posicionada, era chegada a hora. A luta corpo a corpo, agora, submergia como inevitável.

Ou pelo menos assim parecia.

O pequeno Zeus, Senhor dos Deuses, fora convocado às pressas. A guerra tivera que fazer uma pausa. Até, pelo menos, o próximo recreio.

Tuesday, April 14, 2009

O Homem Sanduíche


Era novo. Fazia uma das minhas primeiras empreitadas ao centro da cidade de São Paulo. Curiosas figuras, rostos sortidos. Um tipo me chama atenção. Em meio a duas placas, um homem. Dizia: Compro ouro. Pela pouca idade talvez, julguei-o inicialmente como homem rico. ‘’Pago em dinheiro’’ também gritava-nos o bilhete. Letras grandes.

Emplacado por ambos os lados, este usava um chapéu velho, camisa simples, e sapato marcado. Acentuadas linhas e marcas em seu rosto contavam-nos sua história. Estava cansado. Não daquele momento em si, mas de toda uma vida. Era como se cada forma em sua expressão representasse um desgaste, uma dor, uma angústia, um parente deixado para trás.

Especulo. Imagino. Fantasio. Seu nome deve ser João. Veio do nordeste, Piauí talvez, pela forma dos olhos. Atraído pelo gold rush e pela promessa de riqueza na capital do estado. Por ironia macabra, o mais perto que chegou de tais coisas, foi da palavra ouro, escrita com fita adesiva velha, estampada em seu peito. Sua alma, enferma e sofrida, parecia vazia.

Meu braço é puxado. Minha mãe tem pressa. Temos que passar na São Francisco, comprar flores, e buscar papai, tudo isso antes do almoço. Sanduíche, porém, mantém-se na mesma posição. O mundo rapidamente gira à sua volta e ele lá permanece, em uma espécie de prece silenciosa. Um carrinho de camelô entra em minha frente. Já não mais o vejo. Sua silhueta porém, insistentemente mantém-se assombrando minha cabeça. Para todo o sempre.

A Janela do Teu Quarto


Receio. Imaculado é teu corpo que por muitas vezes saciou meu desejo.
Padeço. Tua imagem me traz lembranças, anseios.
Desejo-te. O impossível me motiva.
Quero crer. Quero crer que aquilo que sinto é de certa forma mútuo.
A carne. Sonho contigo. Nossos suores fundem entre si.
Voyeurismo. Ainda lembro onde moras.
De meu carro. Minha alma atrofia-se.
A mentira. Não quis crer. Não quero crer.
Surreal. O momento não mais existe. Não há mais razões.
Não a tenho. Não mais.
A bala. Do molar a primeira vértebra atravessa.
A redenção. Um sorriso em meu rosto e a paz em minha alma. Sublime.

Sutil Sobrevivência



Um centro urbano. Pessoas transitam por ruas e vielas com seus animais motorizados, buscando sempre um sabor tal que nunca é atingido. Esquecem-se então, da beleza e riqueza dos detalhes. Por incluir-me no contexto social, encontro-me cego. Alheio ao que verdadeiramente existe, não percebo a sutileza dos objetos. Vejo-me em outro plano, em um lugar que não reconheço e que ninguém me reconhece.

Minhas sensações se confundem.

Não vejo detalhes nas coisas, não vejo cores puras, só uns borrões. Já não sou ou não me considero mais capaz de vê-las; visei tanto por algo, que perdi um outro ainda maior. Um pôr do sol deixou de ter a riqueza prismática de suas cores, e agora, apenas indica o fim de um novo dia.

Não há mais tempo para pequenas cenas. Não tenho mais vontade de observar a arte gráfica do mundo (leia-se incapacidade). Perco o micro e trato o macro como se este, sempre esteve e sempre estará lá, esquecendo de forma ignorante e pior de tudo, consciente, de que o todo só existe a partir da porção.

Tenho que ir. Já me encontro atrasado.

Wednesday, July 12, 2006

Calmantes e Champagne


Como não se lembrar da série Simple Life? – Bem, se você não tem acesso à tevê a cabo, não tem como mesmo. Mas explico: tratou-se de um really show protagonizado por duas patricinhas da alta sociedade americana, vivendo as mais variadas situações com gente que, por mês, tira o mesmo valor dos sapatos das gurias. Enfim.

A série conta a história de duas garotas-barbie, cujo vestuário consiste em 80% pele, 20% roupa, tons rosa e muita maquiagem. A primeira delas, mais atirada, mais atrevida e mais fora forma, Nicole Richie, filha adotiva do cantor Lionel Richie, tem, como o próprio sobrenome e manequim induzem, uma gorda mesada do papi.

Nicole, que estava muito acima do peso após o término da terceira temporada da série, culpa o estresse pela sua perda de peso repentina - Engraçado, Anthony Garotinho deu o mesmo motivo por ter virado um filhote de Michelin.

Já a outra, Paris, bisneta e herdeira do império Hilton, sempre se apresentou magérima em seu modelito chassi de grilo. Outro dia mesmo li que Paris Hilton, atriz pornô e socialite, fora mordida por seu chipanzé de estimação. Mas foi só um susto. O primata passa bem.

Paris que depois de amargar com divulgação de um vídeo seu na internet, à la Cicarelli, agora decidiu regular, e promete que o que milhões de pessoas já viram, ninguém mais vai ver. Pelo menos por enquanto, já que a calcinha de ferro já tem data pra expirar. Um ano. É o tempo que Paris usará, segundo ela, para “se conhecer melhor”. Gozado, né?

Atualmente, o cenário de amizade antes visto nas séries já não é mais tão verdadeiro assim. As duas estão mais brigadas que atendimento e criação de agência. Também pudera, não deve ser fácil conviver com alguém que masca chiclete de boca aberta o dia inteiro e usa um cão como acessório de bolsa. Francamente.

Monday, June 12, 2006

Quem não é do mar, que prenda a respiração.


A Austrália está em luto.

O carismático e Joselito, Steve Irwin, o famoso Caçador de Crocodilos, está morto. Atacado por uma arraia prego durante as filmagens de um documentário, Irwin não resistiu ao embate do bicho e foi de baixo do mar para de baixo da terra, deixando mulher e filhas para trás. Sem dúvida, uma tragédia. Aqui no Brasil, por sorte, não corremos esse tipo de risco. Em nossos mares é mais fácil ser atacado por uma garrafa pet de refrigerante cola, do que por um peixe cartilaginoso.

Falando em tragédias envolvendo seres marinhos, me lembrei de parágrafos que li ontem no jornal. Segundo pesquisas, o nosso também carismático, Joselito e fruto do mar, Luis Inácio Lula da Silva, está muito próximo de ser reeleito. E, é claro, a paella vem completa. Seguindo as bolhas do Lula Molusco, vem a boa e velha turminha do PT, atrás de uma cadeirinha no Congresso, um banquinho no Senado ou mesmo um colinho de assessor do próprio Companheiro. Turma do PT que, convenhamos, nos dias de hoje de militante só tem o logo. E olhe lá.

Mas pensando bem, depois de saber que Quércia está tentando se candidatar de novo, assim como o queridinho dos paulistanos (pasmem!) Paulo Maluf pra o cargo de Deputado Federal, nada mais me choca. Tá, isso não é tão verdade assim. Faça-se justiça. Outro dia, enquanto jantava minha deliciosa lasanha de microondas, vi o Collor, humorista, fanfarão, boneco de Olinda e ex-presidente da República, se candidatando para o Senado. Manchei minha melhor camisa com molho de tomate.

Friday, May 12, 2006

A involução do código de barras



Já repararam como a dupla Sandy & Júnior é uníssona? Por exemplo, ninguém fala Sandy e Junior, como duas pessoas. É uma coisa só. A Sandy, coitada, que se deu mal. Carrega uma locomotiva atrás do seu nome. A confusão é tamanha que nem pronome a banda tem, não é a (vindo de “a banda” ou “a dupla”) Sandy & Júnior, nem o (vindo de “o conjunto”) Sandy & Júnior, é simplesmente Sandy & Júnior. Faz-me lembrar dos meus tempos de colégio. Leio Jorge Amado. Assisto Shakespere. Ouço Sandy & Júnior. Nem os Beatles tiveram tal licença poética que têm os filhos de Xitãozinho e Xororó (um dos dois, ninguém sabe ao certo qual). Sem dúvida, isso está atrelado à qualidade sonora. “Vamo Pulá” deixa “Let it Be” no chinelo. Justo.

Falando nisso, li que Junior, músico e papagaio de pirata, decidiu se casar. E pra dar mais ar de moço velho, o guri está deixando crescer um ralo cavanhaque, que muito lembra os 8 fios da cabeleira de Zé Serra. Já Sandy, nem fala em casamento. Recentemente desmentiu o fim de seu namoro com Lucas Lima, da banda Família Nunca Sei Quem é Quem Lima. Deve ser interessante esse esquema de banda-família. Por exemplo, eles devem sair de manhã para o trabalho num carro só. Dizem até que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, do PFL, já está pensando em usar a família em uma campanha sobre o rodízio em São Paulo. Os anúncios só não vão poder ser veiculados em outdoors ou outro meio externo de publicidade, já que o nosso reserva de prefeito deve sancionar daqui alguns dias um projeto de lei que proíbe esse tipo de publicidade a partir de 2007. Propaganda em táxis, telões, dirigíveis. Até avião entrou na onda. Calcula-se mais de 20 mil desempregados no setor publicitário, que já está mais abarrotado que bordel de fim de semana. Uma lei autoritária que fere diretrizes da Constituição, já que veta uma atividade legal, regulamentada e que paga impostos. Crueldade tal que só pode ser comparada a ter que ouvir o Júnior cantado a capella. Pelo amor.

Na época da ditadura tínhamos o DIP, Departamento de Imprensa e Propaganda. Hoje nem de departamento precisa. Basta vaidade. Não gostou, tira. Seria bom se pudéssemos ter um desses também pra prefeitos. “Humm, não gostei muito das mudas de hortaliças que plantaram na Rebouças”. Joga o prefeito fora. “Puxa, não fui muito com a cara do azul marinho da vestimenta da guarda metropolitana”. Joga o prefeito fora. “O quê? O chafariz do Ibirapuera não toca Alanis Morissette?”. Mete o prefeito no saco preto.

Com certeza as ruas vão ficar mais limpas com essa lei. A não ser, é claro, pelos pais de família sentados na guia, sem a mínima inspiração criativa sobre o que dizer em casa. Lei essa, que nada fala dos quilos de panfletos, lambe-lambes e faixas de politicagem dispostas na época de eleições. Quando o rabo é alheio, exame de próstata é só uma visitinha ao médico. Hoje mesmo, quase morri sufocado, depois de engolir um pedaço de panfleto que bateu na janela e foi triturado pelo ar condicionado do escritório. Quando li que o panfleto era do PFL, meu chefe ligou para os para-médicos.

Uma certa vez, perguntaram-me sobre como é a vida de publicitário. Respondi que, sabendo fazer piadas, poderia escolher entre duas profissões: publicitário e palhaço de circo. Fui escolher bem a que leva mais torta na cara. Francamente.

Wednesday, April 12, 2006

E quem quiser, que aplauda de pé.



Respeitável público, o circo chegou!

E o palhaço que vos fala, que tanto ri, sorri e faz palhaçada, hoje, chora por dentro. Chora por um domingo em que a República fora posta sobre a mesa do Itamaraty e com sarcástico sorriso do agressor de terno, violentada. Um domingo em que o não-fui-eu, o fui-mas-esqueceram e o estupra-mas-não-mata saíram vitoriosos. Não, hoje não tem piadas, meu senhor. Hoje tem pena. Pena de uma nação que exige a cirurgia dos três Poderes, mas esquece-se que, na verdade, o paciente é o próprio médico.

Respeitável público, o circo mudou. O leão da verdade acua-se num canto da jaula pelo cajado do voto popular. O mágico disfarça cassações e sentenças, e o mais incrível de tudo: as perdoa. Transforma corruptos em vitimados, como num passe de mágica. “Abracadabra!” - grita alguém ao fundo. Mas isso não tem nada de mágico. É truque. Não é que o elefante não saiba da sua força. Simplesmente desistiu de lutar. Chuta a bola e graciosamente abaixa sua cabeça, para que seu domador anão, monte em seu lombo. Não, hoje não tem piadas, meu senhor. A anestesia do “saco cheio” entrou em nossas veias. O inconformismo transformou-se em conformismo. O intervalo entre a revolta imediata e seu consecutivo perdão tem, data para expirar tão certa quanto a validade de um pote de palmito.

E hoje tem marmelada? Tem, sim senhor. No nosso picadeiro a mulher barbada vem na carcaça de um homem e à sombra de um representante do povo. E que povo é esse, Deus meu, que não percebes lobo em pele de cordeiro? O nosso circense não põe medo no público, pelo contrário, o seduz. Trapezistas em Ministérios tapeiam a platéia, Bolsas Família enchem a pança de futuros votos, enquanto anões dão cambalhotas em discursos presidenciais melosos, para disfarçar a poeira que fora levantada. Não, meu senhor. Hoje não tem piadas.

Lembro-me quando menino. Adorava o circo. Lembro dos nossos caras-pintadas. Lembro da Avenida Paulista, local em que hoje trabalho, recheada deles. À minha mãe, perguntava perante a inocência da idade: “É festa, mamãe?”. E quem diria, quatorze anos depois, o aniversariante voltou. O defunto nem bem esfriou e, os antes marginalizados, já estão na gandaia de novo. E bem longe do velório.

Já ouvi extremistas levantarem a bandeira da volta da ditadura. Ou da revolução armada. Não creio. Ainda acredito sim, na democracia. Porém me borro inteiro de dizer, assim, numa mesa de bar. Não quero ser caxias da turma. A Alice, no País das Maravilhas. “Ás armas!” – esbravejo em voz alta. E sempre me pergunto se alguma garota da mesa percebeu que sou, na verdade, um democrata. Que vergonha.

Mas como uma vez disseram, o espetáculo não pode parar. E o circo chega da forma mais humilhante possível. Pela democracia. Foi o povo quem fez. Fui eu que fiz. Dessa vez os animais não foram domesticados pelo chicote. Parece que o Mito da Caverna que Platão tanto falava não era tão mitológico assim. Assustados e com medo, preferimos a negação do óbvio à indagação de uma mudança insegura. O medo fez com que em outrora, tomássemos a pílula azul de Morpheus. E diante de uma segunda oportunidade, repetimos a dose. É a indigesta política do Pão e Circo versão Tupiniquim. Sinto muito, meu senhor, hoje não tem piadas. Não saberia fazê-las. Não hoje.

Respeitável público, o espetáculo começou. É isso. Podem jogar os tomates.

Monday, March 13, 2006

Novo Outono, Mesmas Mariposas



Digno sempre é o tal que contraria leis e mandamentos e, dentro de sua própria existência, cria suas próprias razões. Porém, através de utopias já faladas, movimentos já marchados e pensamentos de outrem, induzem a um agrupamento tal de idéias que já não mais indicam uma nova linha revolucionária. Representam apenas um simples ato de oposição, quase sempre sem o diferencial que só a inovação ideológica pode ter. Acredito que hoje, as idéias são apenas palavras sobrepostas, conceitos remodelados. Nada é novo. Che Guevara da era digital é Michael Moore. Marcelo D2 é a ideologia de Timothy Leary. Diogo Mainardi é o infante resmungão de Paulo Francis. Winning Eleven é a continuação do botão de mesa. Eu mesmo respiro uma revolução seminova. Até ia falar algo revolucionário agora, mas acho que esqueci no táxi.