O Homem Sanduíche

Era novo. Fazia uma das minhas primeiras empreitadas ao centro da cidade de São Paulo. Curiosas figuras, rostos sortidos. Um tipo me chama atenção. Em meio a duas placas, um homem. Dizia: Compro ouro. Pela pouca idade talvez, julguei-o inicialmente como homem rico. ‘’Pago em dinheiro’’ também gritava-nos o bilhete. Letras grandes.
Emplacado por ambos os lados, este usava um chapéu velho, camisa simples, e sapato marcado. Acentuadas linhas e marcas em seu rosto contavam-nos sua história. Estava cansado. Não daquele momento em si, mas de toda uma vida. Era como se cada forma em sua expressão representasse um desgaste, uma dor, uma angústia, um parente deixado para trás.
Especulo. Imagino. Fantasio. Seu nome deve ser João. Veio do nordeste, Piauí talvez, pela forma dos olhos. Atraído pelo gold rush e pela promessa de riqueza na capital do estado. Por ironia macabra, o mais perto que chegou de tais coisas, foi da palavra ouro, escrita com fita adesiva velha, estampada em seu peito. Sua alma, enferma e sofrida, parecia vazia.
Meu braço é puxado. Minha mãe tem pressa. Temos que passar na São Francisco, comprar flores, e buscar papai, tudo isso antes do almoço. Sanduíche, porém, mantém-se na mesma posição. O mundo rapidamente gira à sua volta e ele lá permanece, em uma espécie de prece silenciosa. Um carrinho de camelô entra em minha frente. Já não mais o vejo. Sua silhueta porém, insistentemente mantém-se assombrando minha cabeça. Para todo o sempre.